Desperto de meu
febril sonho profundo para o pesadelo da realidade. Como se uma incandescente
luz invadisse abruptamente a penumbra tenebrosa e ilusória, e dissipasse as
brumas frias e pesadas nas quais eu me escondia.
Eu sei que a porta
esta se fechando lentamente, posso ouvir o rangido agudo, um pedido de socorro,
um grito silencioso, me prendendo e me trancando para sempre nas profundezas
daquilo que eu mais temo...
Estou submersa,
estou ouvindo os clamores daqueles que antes de mim já foram levados, de seu
tranqüilo mundo subitamente arrancados, sonhos desprezados, raízes e afetos
bruscamente cortados, sentimentos despedaçados e vidas... Vidas simplesmente
acabadas.
Desapareci sob as
pesadas nuvens negras que cobriam todo o meu céu. Fui cruelmente sugada para
baixo, para baixo, para baixo.
Oh Deus, estou
embriagada, atônita e dilacerada. Caio. Embalada por braços desconhecidos,
acolhedores, maléficos e ameaçadores. Gritos são minhas canções de ninar.
Vi-me perdida e
desesperada num mundo sombrio, assustador, obscuro, acolhedor.
Em cada canto uma
sombra se move, as trevas contidas no silêncio da noite sussurram para mim. Um
suspiro pesado, uma respiração fraca e debilitada, um arrastar de correntes,
atrás de mim vaga, uma alma condenada.
Sinto sua dor, seus
medos e sentimentos. Arrependido profundamente pelos erros cometidos, ele
arrasta as correntes que prendem sua alma a uma vida escorraçada de sofrimento,
pavor, suas palavras soam em meus ouvidos como um lamento, sua presença é um
agouro, um triste agouro, um agouro de morte.
Corro para longe
dele, corro além da escuridão, corro além da noite, corro além do que se é
possível correr. Tropeço em podres lápides, marcando o fim de centenas e
centenas de vidas expurgadas, descanse em paz, eles escrevem na pedra fria, mas
aqui, a última coisa que se pode encontrar, é a paz.
Nenhum comentário:
Postar um comentário