sábado, 1 de setembro de 2012

De volta ao Lar


  Desperto de meu febril sonho profundo para o pesadelo da realidade. Como se uma incandescente luz invadisse abruptamente a penumbra tenebrosa e ilusória, e dissipasse as brumas frias e pesadas nas quais eu me escondia.
  Eu sei que a porta esta se fechando lentamente, posso ouvir o rangido agudo, um pedido de socorro, um grito silencioso, me prendendo e me trancando para sempre nas profundezas daquilo que eu mais temo...
  Estou submersa, estou ouvindo os clamores daqueles que antes de mim já foram levados, de seu tranqüilo mundo subitamente arrancados, sonhos desprezados, raízes e afetos bruscamente cortados, sentimentos despedaçados e vidas... Vidas simplesmente acabadas.
  Desapareci sob as pesadas nuvens negras que cobriam todo o meu céu. Fui cruelmente sugada para baixo, para baixo, para baixo.
  Oh Deus, estou embriagada, atônita e dilacerada. Caio. Embalada por braços desconhecidos, acolhedores, maléficos e ameaçadores. Gritos são minhas canções de ninar.
  Vi-me perdida e desesperada num mundo sombrio, assustador, obscuro, acolhedor.
  Em cada canto uma sombra se move, as trevas contidas no silêncio da noite sussurram para mim. Um suspiro pesado, uma respiração fraca e debilitada, um arrastar de correntes, atrás de mim vaga, uma alma condenada.
  Sinto sua dor, seus medos e sentimentos. Arrependido profundamente pelos erros cometidos, ele arrasta as correntes que prendem sua alma a uma vida escorraçada de sofrimento, pavor, suas palavras soam em meus ouvidos como um lamento, sua presença é um agouro, um triste agouro, um agouro de morte.
  Corro para longe dele, corro além da escuridão, corro além da noite, corro além do que se é possível correr. Tropeço em podres lápides, marcando o fim de centenas e centenas de vidas expurgadas, descanse em paz, eles escrevem na pedra fria, mas aqui, a última coisa que se pode encontrar, é a paz. 

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