sábado, 1 de setembro de 2012


- Renego á ti, oh Pai dos fracos, cegos e iludidos, renego á ti ante á tua odiosa presença, renego á tua salvação, ao teu perdão e ao teu amor. – levantou-se, desembainhando o punhal na cintura do amado. – Juro, pelo sangue que agora derramo – e abriu um profundo corte no pulso esquerdo – sobre este altar que louva á tua falsa existência, que negarei á ti para todo o sempre.
  Ela gritava de dor, de tristeza, de ódio, amaldiçoando cada suspiro que a mantivera em vida, amaldiçoou a si mesma, ao sangue que corria em suas veias, amaldiçoou á vida e a luz do sol, condenando sua própria alma num mundo trevoso e medonho do qual jamais poderia sair.
  Ajoelhou-se ao lado de Lion, contemplou-lhe as faces pálidas, frias e plácidas, curvou- se sobre ele, seus rostos tão próximos que ela podia sentir o odor cadavérico que o corpo começava á exalar.
- estou indo meu amor, estou á caminho, estou indo por você. – beijou seus lábios dolorosamente pela ultima vez, e reunindo as forças que se esvaiam com o sangue e se derramava de forma macabra pelo chão da capela, ela se arrastou até a janela.
  De pé, no peitoril, ela deixou que o vento cortante acariciasse sua pele, varresse seu rosto como o beijo gélido da morte.
  Abrindo os braços para abraçar a lua que sorria para ela, fechou os olhos, e dando um pequeno impulso com o corpo para frente, ela caiu no infinito precipício da noite eterna. 

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