- Renego á ti, oh Pai dos fracos, cegos e iludidos, renego á
ti ante á tua odiosa presença, renego á tua salvação, ao teu perdão e ao teu
amor. – levantou-se, desembainhando o punhal na cintura do amado. – Juro, pelo
sangue que agora derramo – e abriu um profundo corte no pulso esquerdo – sobre
este altar que louva á tua falsa existência, que negarei á ti para todo o
sempre.
Ela gritava de dor,
de tristeza, de ódio, amaldiçoando cada suspiro que a mantivera em vida,
amaldiçoou a si mesma, ao sangue que corria em suas veias, amaldiçoou á vida e
a luz do sol, condenando sua própria alma num mundo trevoso e medonho do qual
jamais poderia sair.
Ajoelhou-se ao lado
de Lion, contemplou-lhe as faces pálidas, frias e plácidas, curvou- se sobre
ele, seus rostos tão próximos que ela podia sentir o odor cadavérico que o
corpo começava á exalar.
- estou indo meu amor, estou á caminho, estou indo por você.
– beijou seus lábios dolorosamente pela ultima vez, e reunindo as forças que se
esvaiam com o sangue e se derramava de forma macabra pelo chão da capela, ela
se arrastou até a janela.
De pé, no peitoril,
ela deixou que o vento cortante acariciasse sua pele, varresse seu rosto como o
beijo gélido da morte.
Abrindo os braços
para abraçar a lua que sorria para ela, fechou os olhos, e dando um pequeno
impulso com o corpo para frente, ela caiu no infinito precipício da noite
eterna.
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