A dor lacinante, indescritível, a dor
que me dilacera, que me desfaz em tantos pequenos pedaços, pequenos demais para
serem postos de volta no lugar, mas grandes o suficiente para me cortar e
fazer-me sangrar.
Curvei-me sobre ele,
toquei-o desesperadamente tentando resgatar ou conservar a ultima centelha de
vida que seu corpo, total e friamente inerte, não podia mais conter.
Meus lábios tocaram
os seus. Senti em minha pele o calor que rapidamente escapava-lhe, provei o
gosto do sangue, agridoce, que escorria em um filete por sua pele morena.
E ele estava imóvel,
os olhos vidrados fitavam um caminho desconhecido e tenebroso que todos nós
algum dia havemos de percorrer.
Ao nosso redor as
brumas baixavam, enquanto o sol levantava-se por trás das colinas e parecia
zombar da minha dor, da minha tristeza, dos cortes profundos que seus raios
insensíveis marcavam em minha alma, se é que existe alma, e naquele momento
clamei por Deus, se é que existe Deus, um Deus que naquele momento parecia não
se importar com o meu sofrimento.
Fui perdendo as
forças, e sentindo meu corpo desfalecer-se, débil, minha mente perdendo a
razão, uma razão que para mim nunca foi razão, foi apenas ilusão. E á seu lado, ao lado de meu amado, naquela
aurora, eu adormeci, talvez, eternamente, pois á seu lado, eu alegremente,
permaneci.
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